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Las representaciones de muerte de los estudiantes atuantes en el campo de la salud de la Universidad Federal do Rio Grande do Norte/UFRN ? Natal/Brasil.

Fecha Publicación: 01/03/2006
Autor/autores: Trindade Soraya Guilherme Cavalcanti

RESUMEN

El presente trabajo tiene como objetivos principales investigar la representación de muerte para los estudiantes del último año de los cursos relacionados a la area de la salud, además evaluar el preparo que eses estudiantes consideran estar recibiendo para lidar com las situaciones de pérdida y luto. Participaron de la investigación 10 estudiantes de los cursos de Medicina y Enfermagem (Área de la Salud), psicología y Servicio Social (Área de Humanas), totalizando 40 participantes. Todos estaban cursando él último año en sus respectivos cursos, en el momento en que pasaban también per la experiencia del práctica curricular. Los dados fueron cogidos per un cuestionario semi-estructurado.

Obserbamos la existencia de una asociación muy fuerte entre la idea de muerte y la emergencia de sentimientos negativos en aquellos que lidan directamente com ella, ya que 65, 8% de los sentimientos apuntados como relacionados a la muerte pueden ser así calificados. Él preparación recibido durante la formación académica para lidar com la muerte fue apuntado como inadecuado per el 80% de los estudiantes, sin embargo el contacto com situaciones de muerte ya se constitua como una realidad para 82, 5% de los participantes. De estes, 41, 4% relatan que, como mínimo en un primero momento, reaccionan mal a tales situaciones. Eses dados evidencian la importancia de que sea dispensada una atención mayor a la formación del profesional de la area de la Salud en el que dice respecto al soporte que él necesita para lidar com situaciones de pérdida y luto en su práctica profesional.


Palabras clave: Muerte, Práctica profesional, Psicología de la salud
Tipo de trabajo: Conferencia
Área temática: Psicología general .

Las representaciones de muerte de los estudiantes atuantes en el campo de la salud de la Universidad Federal do Rio Grande do Norte/UFRN – Natal/Brasil.

(The representations of death for operating students in the area of health in Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN – Natal/Brazil. )

José Hélder Franco Aquino; Luciana Carla Barbosa de Oliveira; Trindade Soraya Guilherme Cavalcanti; Eulália Maria Chaves Maia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – Departamento de Psicologia – grupo de Estudos: Psicologia e Saúde (GEPS)

PALABRAS CLAVE: psicología de la Salud, Muerte, Práctica profesional.

(KEYWORDS: Health Psychology, Death, Academic formation. )

Resumen

El presente trabajo tiene como objetivos principales investigar la representación de muerte para los estudiantes del último año de los cursos relacionados a la area de la salud, además evaluar el preparo que eses estudiantes consideran estar recibiendo para lidar com las situaciones de pérdida y luto. Participaron de la investigación 10 estudiantes de los cursos de Medicina y Enfermagem (Área de la Salud), psicología y Servicio Social (Área de Humanas), totalizando 40 participantes. Todos estaban cursando él último año en sus respectivos cursos, en el momento en que pasaban también per la experiencia del práctica curricular. Los dados fueron cogidos per un cuestionario semi-estructurado. Obserbamos la existencia de una asociación muy fuerte entre la idea de muerte y la emergencia de sentimientos negativos en aquellos que lidan directamente com ella, ya que 65, 8% de los sentimientos apuntados como relacionados a la muerte pueden ser así calificados. Él preparación recibido durante la formación académica para lidar com la muerte fue apuntado como inadecuado per el 80% de los estudiantes, sin embargo el contacto com situaciones de muerte ya se constitua como una realidad para 82, 5% de los participantes. De estes, 41, 4% relatan que, como mínimo en un primero momento, reaccionan mal a tales situaciones. Eses dados evidencian la importancia de que sea dispensada una atención mayor a la formación del profesional de la area de la Salud en el que dice respecto al soporte que él necesita para lidar com situaciones de pérdida y luto en su práctica profesional.

Abstract

The present study aims to investigate the representation that studens of health at UFRN related course have of death. It also observed how they evaluate the preparation that they receive from this Institutioninorder to deal with death situations in professional environment. Forty undergraduate students from the Medicine, Nursing, Psychology and Social Service courses took part in this research. They were asked to answer a semi-structured questionnaire about the topic. A strong association was observed between the idea of death and the emergency of negative feelings in students that deal directly with it, since 65. 8% of the feelings pointed out as related to death can thus be classified. The majory of the participants, 80% , answered that their trainning to deal with death at professional settings were poor and inadequate, even though, most of them, 82, 5 % were already dealing with it in their academic practices. Among those students 41, 4% of them reported that, at least at first moment, reacted inappropiatelly in those situations. These results demonstrate that a more direct measure should be taken in order to prepare those students to deal with death in their future professional lives.



Introdução

A morte, entendida como um estágio do ciclo vital natural pela qual todos os indivíduos irão necessariamente passar, ainda costuma ser encarada por muitos como um evento enigmático e incompreensível. Embora seja ela uma das maiores, se não a maior certeza que se tem acerca do próprio futuro, a consciência da finitude desperta uma miríade de reações. Isso ocorre porque essa consciência, ao mesmo tempo em que impulsiona o sujeito a buscar suas realizações, acaba também por proporcionar medo e insegurança, dado o caráter irreversível que a morte possui.  

O significado que comumente se atribui à morte, no entanto, não é o mesmo para todas as pessoas. Ele está suscetível a uma série de influências, como as experiências pessoais de cada um, sua orientação religiosa ou até mesmo ao momento histórico em que se vive. Sabe-se que a representação de morte tem sofrido várias alterações de acordo com o cenário sócio-cultural. Áries [1] faz uma retrospectiva acerca das diferentes formas como a morte foi encarada desde o século XV ao século XX. Se no período medieval a morte era vista com extrema naturalidade, de tal forma que os ritos fúnebres eram praticados abertamente na presença de todos e o moribundo reconhecia e até aceitava a proximidade de sua morte, nos tempos atuais nos deparamos com um cenário bem diferente.
A concepção de morte que predominou no século XX e que permanece atualmente a coloca como um tema sobre o qual não se pode ou não se deve falar. Percebemos um esforço muito grande no sentido de ocultar a sua presença, camuflar a sua ocorrência. Várias práticas observadas nos hospitais confirmam essa tendência, desde o contato mais “resguardado” com o paciente terminal, tanto por parte da equipe de saúde ou até mesmo por parte de seus familiares, até o uso de aparelhagem tecnológica que prolongam a vida do paciente mesmo quando a sua recuperação já não é mais possível [2].

O fato é que torna-se difícil lidar com a presença da morte, e isso torna-se ainda mais evidente no caso dos profissionais de saúde, que defrontam-se com ela freqüentemente no seu ambiente de trabalho [3, 4, 5]. Some-se a isso uma multiplicidade de fatores que podem contribuir para um desgaste físico e mental desses profissionais, como elevadas jornadas de trabalho, impossibilidade de atender a todas as demandas que se apresentam, o contato com o sofrimento e com a não-adesão ao tratamento por parte de alguns pacientes, entre outros [6, 7]. Tais problemas não são exclusivos do Médico, mas também se fazem presentes na rotina de Enfermeiros Psicólogos, Fisioterapeutas, Nutricionistas, Assistentes Sociais e demais profissionais de Saúde. O contato com a morte passa a ser mais um dos eventos estressores com os quais esses profissionais irão se defrontar.

Esse cenário já vai estar presente na vida do profissional jovem, que está no período de transição entre o universo acadêmico e o exercício pleno de sua profissão. Freqüentemente, os estudantes deparam-se com situações frente as quais não se sentem preparados para atuar, o que poderá gerar ansiedade e sentimentos de impotência e frustração. Millan, Rossi & De Marco [8], concluem em seus estudos que muitos alunos podem não estar preparados para episódios de perda de pacientes, atribuindo a si próprios uma responsabilidade excessiva pelo que não lhes foi oferecido em sua formação. Em decorrência disso, podem reagir com comportamentos auto-lesivos [9] ou de uma forma prejudicial ao relacionamento que deveriam estabelecer com os pacientes, adotando uma postura excessivamente fria, que na verdade é a manifestação da defensividade que adotam como mecanismo de enfrentamento.


A ocorrência de mortes no ambiente de trabalho muitas vezes é percebida como um fracasso pelos profissionais de saúde, e acabam por se constituir em eventos traumatizantes. O presente estudo propõe uma investigação acerca das representações de morte para estudantes de cursos ligados à área da saúde na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem como objetivo também investigar a opinião dos estudantes acerca do preparo oferecido por essa Instituição de ensino para lidar com episódios de perda e luto no ambiente profissional, bem como obter uma breve auto-descrição do seu comportamento quanto se deparam com tais episódios.


Metodologia

O estudo foi conduzido com a participação de estudantes dos cursos de Medicina, Enfermagem, Serviço Social e Psicologia, totalizando 40 participantes eqüitativamente distribuídos entre os cursos. Todos estavam cursando o último ano de seus respectivos cursos e passando pela experiência do estágio curricular. Foi utilizado como instrumento um questionário semi-estruturado construído especificamente para os fins dessa pesquisa. O questionário continha, além dos dados sócio-demográficos, questões mais gerais acerca da relação do profissional de sua área com a morte no ambiente de trabalho e questões direcionadas às suas próprias experiências no estágio curricular. Trazia também questões relacionadas com a sua formação acadêmica direcionada ao tema da morte e a produção de um desenho temático seguido de uma descrição do mesmo, com vistas a investigar o que a morte representa para esses estudantes.

As respostas foram analisadas seguindo-se o método de análise categorial [10], em que uma comissão de julgadores organizou os discursos em categorias definidas a partir da aproximação semântica dos segmentos de respostas identificados. Uma vez categorizados, os dados foram tabulados no programa SPSS 12. 0 (Statistical Package for Social Science). Não obstante o caráter eminentemente qualitativo do estudo, procedeu-se a uma análise da freqüência das respostas visando uma compreensão mais completa dos resultados obtidos. Para efeito de análise, os sujeitos da amostra foram divididos segundo a sua área de formação, constituindo dois grupos: Área de Humanas – estudantes dos cursos de Psicologia e Serviço Social -, e Área Biomédica – estudantes dos cursos de Medicina e Enfermagem.


Resultados

Para uma melhor contextualização, apresenta-se aqui uma breve caracterização da amostra. Os sujeitos estiveram compostos predominantemente pelo sexo feminino (77, 5%), com idade média de 23, 6 anos. Dentre as religiões apresentadas, parte da amostra declarou-se católica (37, 5% praticantes e 30% não-praticantes), com uma incidência significativa de evangélicos (17, 5%). A grande maioria (90%) é solteira e com uma renda familiar mensal acima de 5 salários mínimos1, com uma maior concentração na faixa de 6 a 10 salários mínimos (40% do total da amostra).

As representações de morte para os participantes foram obtidas a partir da descrição do desenho temático solicitado no questionário. Percebe-se uma alta incidência de respostas que referem a morte como um evento natural, mas ao mesmo tempo revestido de um caráter misterioso, refletindo uma ambigüidade entre convicção e incerteza.  

Para esses participantes, que constituem a maioria tanto dentro do grupo de Humanas quanto no grupo da área Biomédica, a morte faz parte do ciclo vital, sendo, portanto, um evento natural na trajetória de vida do indivíduo. No entanto, ela ainda se mantém de certa forma na esfera do desconhecido, pois não se sabe ao certo o que ela significa. Também aparece a representação da morte não como o fim da vida, mas como uma passagem para outro tipo de existência – 30% dos estudantes da área de Humanas e 26, 3% dos estudantes da área Biomédica -, além da referência ao momento de enfrentamento de morte – 30% de Humanas e 15, 8% de Biomédica – fazendo alusões aos sentimentos que são despertados quando se está em proximidade com a sua própria morte ou a morte de outra pessoa.  

 


Gráfico 1 - Expressão da representação de morte dos estudantes de acordo com a área de formação (%)


Esses sentimentos foram explorados mais diretamente a partir de um item do questionário que solicitava que fossem atribuídos os cinco sentimentos que, para cada participante, estão mais diretamente associados com a idéia de morte. Observou-se uma associação muito forte entre a idéia de morte e a emergência de sentimentos negativos nos estudantes de todas as áreas que fazem parte da amostra, tais quais tristeza, dor, angústia, sofrimento, entre outros. Essa associação mostrou-se mais presente entre os estagiários do curso de Medicina, visto que 80% das respostas emitidas por eles neste item podem ser enquadradas nessa categoria. O curso que apresentou a maior freqüência de respostas categorizadas como “sentimentos positivos” diante da morte, tais como alegria, alívio e paz, foi o de Serviço Social, mesmo assim num percentual bem abaixo do observado para “sentimentos negativos” - 28 contra 54%. No total, 65, 8% de todas as respostas emitidas neste item referem-se a sentimentos que possuem uma conotação negativa.

Essa particularidade sugere que um preparo mais direcionado para lidar com a morte no ambiente de trabalho de fato é necessário, como uma forma de minimizar a mobilização emocional que costuma ser evocada. No entanto, a grande maioria dos participantes considera que não há um preparo adequado oferecido pela sua Instituição de Ensino para lidar com questões de perda e luto no ambiente profissional – 85% entre aqueles com formação humanística e 75% daqueles com formação biomédica. Apenas 10% do total da amostra considera que a Universidade fornece uma formação satisfatória nesse quesito.

 


Gráfico 2 - Avaliação dos estudantes acerca do preparo universitário para lidar com a morte (%)


Dentre as causas principais apontadas para essa deficiência na formação acadêmica, os estudantes citaram a falta de disciplinas voltadas para discutir a temática, e a pouca disponibilidade de tempo e negligência do corpo docente para se discutir sobre a morte. Alguns ainda consideram que o preparo para lidar com a morte não deve ser buscado exclusivamente durante o curso, mas cabe a cada um o papel de buscar o equilíbrio emocional necessário. As diferenças entre os dois grupos nesse item são ilustradas no quadro a seguir:

 


Gráfico 3 - Fatores apontados como responsáveis por esse despreparo (%)

Quando questionados acerca das experiências relacionadas com morte de pacientes durante o estágio curricular, a maioria dos estudantes, nos dois grupos, relatou já ter presenciado pelo menos uma situação concreta de perda, mostrando que, apesar de ainda se encontrarem num estágio inicial de sua prática profissional, a morte já faz parte dela. Mesmo entre aqueles que nunca se depararam com a morte, muitos consideram seriamente a possibilidade de que isso venha a ocorrer ainda durante o estágio curricular.

 


Gráfico 4 - Ocorrência de situações relacionadas à morte durante o estágio (%)


Finalmente, foi solicitada dos estudantes uma breve descrição de suas reações frente às situação de morte com as quais se depararam, entre aqueles que já passaram por essa experiência. Os resultados são ilustrados no quadro a seguir:

 


Gráfico 5 - Forma como os estudantes relataram reagir diante da morte no estágio (%)


Dentre esses sujeitos, 47% - que representa o somatório das categorias de respostas “reação negativa” e “habituação com a prática” - relatam que, pelo menos num primeiro momento, reagiram de uma forma negativa, experienciando sentimentos como medo, tristeza e insegurança. Conforme aumenta o número de óbitos, o estagiário é obrigado a adaptar-se às demandas com as quais irá ter que trabalhar, melhorando aos poucos sua reação diante da morte, sobretudo aqueles com formação na área Biomédica – 26, 3% apresentaram respostas que se enquadram na categoria “habituação com a prática”, contra apenas 6, 7% dos estudantes com formação em Ciências Humanas. Apenas 11, 8% dos sujeitos afirmam não ter sido negativamente afetado pela morte dos pacientes e 23, 5% afirmam que reagiram “com naturalidade”, pois buscaram não se envolver afetivamente com os pacientes para não correr o risco de vir a sofrer com a sua perda. Esse artifício foi usado com mais freqüência pelos estagiários da área de Humanas – 33, 3% contra 15, 8% daqueles com formação na área Biomédica.


Discussão

Percebe-se uma relação estreita entre a concepção que os estudantes constroem acerca da morte e a forma como ela é socialmente concebida na cultura ocidental [1]. Vista como um fenômeno natural e integrante do ciclo vital do indivíduo, ainda permanece como algo inexplicável, e que por isso mesmo causa um certo desconforto e insegurança. Evidentemente, a construção de tal representação sofre também influência de experiências particulares, orientação religiosa, crenças e outros fatores.  

Embora os participantes tenham sido divididos em dois grupos, de acordo com o viés de sua formação acadêmica, as diferenças entre eles não se mostraram muito acentuadas. Quando elas surgem, parecem mais referir-se às próprias particularidades que cada profissão traz consigo, e que já são assimiladas como resultado da experiência prática do estágio e da formação adquirida nos anos anteriores. Também reflete um pouco da forma como os profissionais de cada área entram em contato com a morte, e da reação que deles é esperada. Um exemplo disso pode ser observado na avaliação que os estudantes fizeram acerca dos profissionais de sua área no que diz respeito ao contato com a morte. Os futuros Psicólogos e Assistentes Sociais, que costumam lidar com a morte de uma forma mais “subjetiva”, preocupam-se mais com o preparo que os profissionais de sua área estão obtendo para o manejo do assunto com pacientes e familiares. Já os estudantes de Medicina e Enfermagem, por sua vez, entram em contato com a morte de uma forma mais concreta, e enfatizaram na sua análise a freqüência com que os profissionais de sua área são obrigados e se defrontar com situações reais de morte. É importante ressaltar que, resguardadas as devidas competências de cada profissional, todos entram em contato com o sofrimento humano de uma forma integral, experienciando esse evento na sua globalidade.

A forma como os futuros profissionais reagem diante da ocorrência da morte demonstra também diferentes formas de adaptação que os mesmos buscam para que tais ocorrências venham a se tornar menos traumáticas. Alguns estudantes, notadamente aqueles com formação na área de Humanas, adotam como estratégia a esquiva de um estreitamento dos laços afetivos com o paciente como um meio de defender-se desses sentimentos, reagindo mais naturalmente quando a morte se fizer presente ou enquanto uma possibilidade concreta. Embora certo distanciamento seja de fato imprescindível para o estabelecimento de uma relação efetivamente profissional e para o resguardo emocional do cuidador, é importante se estar atento para que esse distanciamento não se transforme em abandono do paciente terminal e de seus familiares, por impossibilidade de lidar com os sentimentos que tal relação ocasiona.
A necessidade de lidar com a morte também gera outras formas de adaptação que surgem espontaneamente. O contato freqüente acaba ocasionando uma alteração na sensibilidade do profissional, que passa a se habituar com as demandas surgidas no seu ambiente de trabalho. Isso é particularmente observado com mais intensidade entre Médicos e Enfermeiros, que entram em contato com a morte na sua manifestação mais concreta com mais freqüência.  

Entre os estudantes, um grupo de sujeitos afirmou que suas reações diante de situações de morte foram traumáticas num primeiro momento, com uma tendência a se tornarem menos sofríveis com a prática – principalmente entre os estudantes da área Biomédica – o que sugere que desde cedo essa habituação já começa a se processar. Mais uma vez surge a necessidade de estabelecer uma fronteira entre um mecanismo de adaptação saudável e a adoção de uma postura profissional excessivamente distante e insensível, que venha a se manifestar negativamente no tratamento dispensado a pacientes terminais e familiares.


Para que esses limites sejam bem delineados uma preparação adequada, não apenas do ponto de vista técnico, mas sobretudo do ponto de vista emocional, torna-se imprescindível. Essa preparação já deveria ser iniciada durante a formação dos futuros profissionais que terão que enfrentar essas demandas. No entanto, a grande maioria dos participantes da pesquisa, de todas as áreas, considera insatisfatório o preparo que a Universidade está fornecendo para o trato com a morte no ambiente de trabalho, o que pode em parte explicar a dificuldade relatada quando se encontram expostos diante dela.

Sem dúvida, é árdua a tarefa de suprir as necessidades dos estudantes em relação a esse aspecto específico de sua formação através de disciplinas e discussões em sala – considerando que até mesmo uma proporção significativa dos participantes relatou que tal empreendimento não poderia esgotar a temática por completo. No entanto, uma oportunidade para expor e compartilhar as ansiedades e as experiências de uma forma mais aberta poderia fornecer um suporte considerável, de extrema utilidade no momento em que a morte de pacientes passasse a se tornar uma realidade. Algumas experiências reportadas com esse objetivo mostraram resultados significativos. Kovács [11], relatando a avaliação da experiência de implantação de uma disciplina de Psicologia da Morte como optativa na grade do curso de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), observou como pontos positivos levantados pelos alunos: a possibilidade de se tratar de um tema pouco debatido, a possibilidade de se entrar em contato com o lado afetivo e questões pessoais, entre outros.

Da mesma forma, Melo Filho [5] cita o relato de estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro acerca de sua experiência na disciplina de Psicologia Médica, mostrando que o contato com um paciente terminal acabou por causar inúmeras surpresas, desmistificando velhas idéias pré-concebidas. Experiências como essas confirmam a importância de se investir num trabalho dessa natureza, visando a uma formação mais integral do futuro profissional de saúde. O desinteresse e a negligência no que diz respeito ao tratamento de questões relativas à relação com pacientes terminais e à possibilidade de perdas humanas no exercício das atribuições laborais dos profissionais de saúde só é um reflexo, no meio acadêmico, da concepção popularmente difundida da morte como um tabu, um assunto que por natureza deve ser ocultado [1].

Torna-se visível, portanto, a necessidade de preencher as lacunas apontadas pelos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Uma vez que os profissionais de saúde sintam-se mais preparados para o trato com questões tão delicadas como a morte no ambiente profissional, espera-se que os mesmos possam adotar uma postura mais humana diante de pacientes terminais e seus familiares, bem como diante daqueles que perderam seus entes queridos, aperfeiçoando a qualidade do atendimento oferecido e o bem-estar do profissional.


Referências Bibliográficas

1. Ariés P. A história da morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Francisco Alves; 1977.

2. Kovács MJ. Bioética nas questões da vida e da morte. Psicologia USP [revista electrônica] 2003 [citado 29 Dezembro 2005]; 14 (2): [70 screens] Disponível em: URL:www. scielo. br/scielo. php? 

3. Bromberg MHPF. A psicoterapia em situações de perda e luto. São Paulo: Editorial PSY II; 1994.

4. Kovács MJ. (org). Morte e Desenvolvimento Humano. 2ª edição. São Paulo: Casa do psicólogo; 1992.

5. Mello Filho J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992.

6. Nogueira-Martins LA. Saúde mental dos profissionais de saúde. En: Botega NJ. (org). Pratica Psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed Editora; 2002. p. 130-144.

7. Nogueira-Martins LA, Jorge MR. Natureza e magnitude do estresse na residência médica. Rev. Assoc. Med. Bras. [revista electrônica] 1998 Jan-Mar [citado 30 Dezembro 2005]; 44 (1) [30 screens]. Disponível em: www. scielo. br/scielo. php? 

8. Millan LR, Rossi E, De Marco OLN. O suicídio entre estudante de medicina. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo 1992; 45: 145-9.

9. Meleiro AMAS. Suicídio entre médicos e estudantes de medicina. Rev. Assoc. Med. Bras. [revista electrônica] 1998 Abr-Jun [citado 30 Dezembro 2005]; 44 (2): [25 screens] Disponível em: www. scielo. br/scielo. php? script=sci_arttext&pid=S0104- 42301998000200012&lng=en&nrm=iso

10. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1885.

11. Kovács MJ. Pensando a morte e a formação de profissionais de saúde. En: Cassorla R. (Coord. ). Da morte. Estudos Brasileiros. Campinas: Papirus; 1991. p. 218-38.


Nota

1 Atualmente no mercado um salário mínimo brasileiro equivale aproximadamente a R$ 300, 00 ou 125, 00 EURO.


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