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Un enfoque tomista sobre el estudio de las emociones.

Fecha Publicación: 01/03/2008
Autor/autores: Lamartine de Hollanda Cavalcanti Neto

RESUMEN

Este artículo presenta una breve visión de conyunto del referencial teórico tomista respeto a las emociones, exponiendo cómo él ve su encaje en el ciclo de la vida consciente, su génesis, clasificación, encadenamiento y dinamismo. Y teje consideraciones sobre el provecho que dicho referencial puede ofrecer al estudio de las emociones, en particular cuanto a sus relaciones con la consciencia, a su influencia sobre el comportamiento y al desenvolvimiento de estrategias de autocontrol.


Palabras clave: tomista
Tipo de trabajo: Conferencia
Área temática: Psicología general .

Un enfoque tomista sobre el estudio de las emociones.

Lamartine de Hollanda Cavalcanti Neto.

Médico psiquiatra, membro do Instituto Filosófico Tomás de Aquino e professor de Psicologia no Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, em São Paulo, Brasil.

Este artículo presenta una breve visión de conyunto del referencial teórico tomista respeto a las emociones, exponiendo cómo él ve su encaje en el ciclo de la vida consciente, su génesis, clasificación, encadenamiento y dinamismo. Y teje consideraciones sobre el provecho que dicho referencial puede ofrecer al estudio de las emociones, en particular cuanto a sus relaciones con la consciencia, a su influencia sobre el comportamiento y al desenvolvimiento de estrategias de autocontrol.

Introdução

Abrangendo temas tão variados quanto a Teologia, a Filosofia, a Psicologia, a Antropologia, a Arte, a Sociologia e a Política, a obra de São Tomás de Aquino vem despertando interesse significativo nos meios acadêmicos. Um breve levantamento bibliográfico da literatura anglo-saxã recente voltada para o Tomismo1, que está longe de ser exaustivo, traz nomes como os de Maurer (1983, 1990), Stump (1993), Kretzmann (1993, 2002), Kenny (2002), Pasnau (2002, 2003), García-Valdecasas2 (2005), O’Rourke (2005), McInerny (2006), Velde3 (1995, 2006), Wippel (2000, 2007), e indica o quanto o mesmo continua repercutindo no mundo universitário.

Diversos outros estudiosos têm oferecido colaboração à Psicologia com base no referencial tomista. Embora não tão contemporâneos quanto os acima referidos, dentro duma esfera de abrangência que inclui o século XX, podemos citar autores como: Farges e Barbedette (1923), Maritain (1923), Allers (1940), Mercier (1942), Barbado (1943), Barros (1945), Collin (1949), Bless (1957), Jolivet (1959), Brennan (1960, 1969, 1969), Gardeil (1967), Vernaux (1969), Sciascia (s. d. ), Marín (1998), Menezes (2000), Cruz (2001), Gilson (2002) e outros. A expressão Psicologia Tomista chegou mesmo a ser cunhada por Brennan (1960), como título de um de seus livros, e adquiriu foros de cidadania desde então.  

A título de amostra do pensamento tomista aplicado ao campo psicológico, podemos focar nossa atenção no tema da vida afetiva ou emocional. Com este objetivo, analisaremos neste trabalho as linhas gerais da concepção tomista sobre as emoções, bem como as contribuições que a mesma pode oferecer ao seu estudo, dinamismo e manejo.


Noção de ciclo da vida humana consciente

As potências do homem4 se articulam entre si de modo a propiciar-lhe os atos necessários à vida que lhe é própria, ou seja, racional e consciente de si mesma. Cada potência tem, portanto, o seu papel peculiar. A doutrina tomista projeta uma luz notavelmente esclarecedora sobre o assunto, em particular sobre aquelas que ela chama de potências apetitivas.  
Para facilitar a compreensão da sua natureza e do seu papel, convém recordar, ainda que sumariamente, a noção de ciclo da vida consciente que se depreende do ensinamento tomista. Sobre ele, Brennan (1960) tece considerações que poderiam ser resumidas nos seguintes termos: 
Por suas faculdades, o ser humano é levado a procurar, primeiramente, conhecer a realidade que o circunda. Conhecendo-a, propende para aquilo que lhe parece conveniente. E propendendo, põe-se em ação de modo a obter aquilo que desejou, ou a evitar o que rejeitou.  
Na primeira etapa, a pessoa põe em movimento suas faculdades cognoscitivas. Seus sentidos externos, também chamados presentativos (visão, audição, etc. ), captam o objeto e o apresentam aos sentidos representativos, ou internos (sentido comum, imaginação, memória e cogitativa). Estes últimos o transformarão numa imagem, ou phantasma na linguagem tomista, da qual o intelecto extrairá as características que o singularizam para formar uma idéia abstrata. Voltando à imagem mental, o intelecto considerará as características peculiares do objeto, obtendo dessa maneira o conhecimento de sua singularidade.
É o que ocorre, por exemplo, quando um indivíduo vê uma casa. Seu sentido comum integra as informações dos sentidos externos. Com base nesta integração, sua imaginação produz uma representação mental dela, auxiliada pela memória e pela cogitativa (que lhe dá a avaliação da utilidade ou nocividade do objeto). De tal representação, ou phantasma, o intelecto abstrai as características singulares, formulando a idéia abstrata e universal de “casa”. Em seguida, se volta para a imagem mental e considera as características singulares da mesma, e assim conclui o processo do conhecimento.
Na etapa seguinte, suas potências apetitivas, tanto a natural quanto as sensitivas e a racional, o moverão a desejar ou rejeitar o objeto, como veremos mais detalhadamente logo adiante. Por fim, sua potência locomotora o induzirá a mover-se e agir em coerência com seu entendimento, seus apetites e sua vontade, fechando, dessa forma, o chamado ciclo da vida consciente.
Esse encadeamento aparentemente complexo pode ser constatado por qualquer pessoa, a cada momento. É o que ocorre, por exemplo, quando alguém vê um prato saboroso disposto para sua refeição, o deseja, tanto instintiva quanto racionalmente, e se locomove até ele para comê-lo. Ou, para retomar o exemplo da casa, após conhecê-la, decide comprá-la ou rejeitá-la, agindo em conseqüência.
O ciclo da vida consciente pode, portanto, ser esquematizado, com base em São Tomás (apud BRENNAN, 1960, com adaptações nossas), como segue: 

CONHECER [Faculdades cognoscitivas: sentidos presentativos (ou externos) - sentidos representativos (ou internos) - conhecimento racional] - PROPENDER [Faculdades apetitivas: 1) natural (comum a todos os seres vivos); 2) sensitiva (comum aos animais): apetite concupiscível e irascível; 3) intelectiva (comum aos Anjos e homens): decisões voluntárias que procedem do conhecimento racional] - AGIR [Faculdade locomotora: ação, comportamento].


As potências apetitivas

Em seu conjunto, as potências apetitivas são as que proporcionam ao homem a capacidade de amar ou odiar, desejar ou rejeitar, e ter os demais movimentos conseqüentes. Elas têm um papel fundamental por se encaixarem, no ciclo da vida humana consciente, como o elo entre as faculdades cognoscitivas e as executivas. Sem elas, de nada nos adiantaria conhecer a realidade, sua nocividade ou conveniência para a vida. Permaneceríamos impávidos e inertes como os minerais.
A Psicologia moderna detém sua atenção mais especialmente nos atos que tais potências propiciam, ou seja, nas emoções. Mas se temos por objetivo conhecer a natureza do que está por trás dessas últimas, nada melhor do que aprofundarmos o que São Tomás nos diz a respeito.  
Ele começa por distinguir três grandes gêneros de potências apetitivas: o natural, o sensitivo e o racional. O apetite natural, no homem, está ligado à sua vida vegetativa. As potências apetitivas sensitivas o estão à sua vida animal. O apetite racional é também chamado de potência volitiva ou vontade, e é próprio ao ser humano e ao angélico. Examinemos cada gênero em particular.


O apetite natural e o sensitivo

Conforme Brennan (1969) apetite ou orexis significa a tendência para algo motivada por um desejo. No caso do apetite natural, tal tendência é provocada pela potência vegetativa que propicia a capacidade de nutrir-se, desenvolver-se e reproduzir-se. No do apetite sensitivo, a tendência é motivada pelos sentidos externos e internos. Quando a tendência é movida pelo intelecto, temos o apetite racional, que integra e tende a coordenar a ação dos demais apetites.  
A finalidade da potência apetitiva é a posse física do objeto, enquanto que a das potências cognoscitivas é sua posse pelo conhecimento. Este, porém, determina aquela, como ensina São Tomás: “o apetite sensitivo, de fato, pode ser movido naturalmente não somente pela estimativa nos animais e pela cogitativa no homem, que a razão universal dirige, mas ainda pela imaginação e pelos sentidos” (AQUINO, S. T. , P. I. q. 81, a. 3, r. a obj. 2. 2002, p. 474).


Tipos de apetite sensitivo

Há dois tipos de apetite sensitivo: o concupiscível, quando tende a obter bens necessários para a subsistência, e o irascível, quando busca bens difíceis de obter ou necessita lutar contra o que o ameaça.  
Pressupondo a ação prévia dos sentidos (externos e internos), é de se notar aqui o papel da potência estimativa (no animal), ou cogitativa (no homem), que é a que lhe confere a noção da utilidade ou nocividade do objeto. Tal conhecimento, que ainda não é racional, mas apenas sensitivo, é o que desencadeará os apetites.


Atos realizados pelo apetite sensitivo

Os atos propiciados pelo apetite sensitivo são chamados por São Tomás de paixões. Ele as define como: “a atividade do apetite sensível que resulta do conhecimento e que se caracteriza pelas alterações corporais que produz” (AQUINO, S. T. , P. I-II, q. 22, apud BRENNAN, 1969, p. 246). Paixão, neste sentido tomista, não é sinônimo, portanto, do que lhe dá a linguagem corrente.  
Os psicólogos modernos também não costumam utilizar o termo paixão, mas emoções e/ou sentimentos. Sem embargo do que, o termo paixão nos parece muito apropriado, pois vem do Latim, passio, e indica as modificações orgânicas, aquilo pelo que passa, sofre, a pessoa submetida a uma emoção.  
Brennan (1969) faz notar que os autores seus contemporâneos distinguiam os sentimentos das emoções. Aqueles seriam equivalentes às paixões que produzem menos alterações corporais, tais como algumas do apetite concupiscível. As emoções o seriam às que produzem alterações mais intensas, como as do apetite irascível e algumas outras do concupiscível.  
Haveria, portanto, entre elas uma diferença apenas de grau, e não qualitativa, baseada na intensidade das mudanças fisiológicas que as acompanham. Sua causa eficiente é sempre a mesma: o conhecimento fornecido pela sinergia dos sentidos e, especialmente, da potência cogitativa aliada, no homem, à intelectual. Pois os elementos e etapas constitutivos das paixões são: o conhecimento - o apetite ou desejo - as mudanças fisiológicas.


Esclarecimento terminológico

Antes de prosseguirmos, valeria a pena fazer alguns esclarecimentos terminológicos. Autores tomistas como Collin (1949) e Mercier (1942) fazem uso da expressão afetos para referir-se às paixões. Collin (1949), por exemplo, dedica três capítulos de seu livro ao estudo da “vida afetiva”. O Cardeal Mercier (1942), inclusive, mostra que a expressão parece remontar a Santo Agostinho, que escreve: “Os movimentos da alma que os gregos chamam páthe são designados pelos latinos com freqüência por afeições ou afetos; alguns traduzem de maneira mais expressiva dizendo paixões” (apud MERCIER, 1942, p. 275. Sem referência ao texto original de Santo Agostinho).  
É curioso notar que, embora todos saibam o que significam, existe certa dificuldade para definir afetos, sentimentos e emoções em termos racionais. A explicação, porém, é simples. Trata-se de potências de ordens diferentes: a definição é um ato da potência intelectiva e a paixão, da apetitiva. Tentar uma definição intelectiva de uma realidade apetitiva seria, portanto, como tentar explicar uma sinfonia com base apenas na leitura de sua partitura. Para compreendê-la, é necessário ouvi-la.  
Contribui também para esta dificuldade o emprego da palavra “sentir” tanto para a senso-percepção quanto para se referir aos sentimentos ou paixões suaves. A senso-percepção está relacionada com os sentidos, com o conhecimento sensitivo, enquanto que o sentimento é o produto de um apetite, que pressupõe um conhecimento. O sentimento inclui, entretanto, uma sensação, em geral táctil proprioceptiva, ou seja, o indivíduo sente as alterações fisiológicas dentro de si, em especial as cardíacas, provocadas pela ação de seus apetites. Daí, aliás, a associação do termo “coração” às emoções.


Classificação tomista das emoções

São Tomás (S. T. P. I-II, qq. 23-25, 2003) baseia sua classificação na natureza do estímulo que dá origem ao apetite, e no modo como reage o apetite face ao estímulo. Mesclando a terminologia de autores modernos com a tomista, Brennan (1969, p. 251) apresenta o quadro que reproduzimos abaixo, com adaptações. Para distinguir, colocamos entre parêntesis a terminologia especificamente tomista, e entre colchetes algumas palavras de esclarecimento:

 




São Tomás apresenta, portanto, os 11 tipos de paixões que os seres humanos são capazes de apresentar como a resultante da interação de um determinado estímulo com o modo pelo qual reage o apetite estimulado. Dessa forma, dentre os atos do apetite concupiscível (que os modernos chamariam de reações tranqüilas ou sentimentos) encontramos o amor, quando um estímulo favorável produz no apetite concupiscível uma reação de prazer, o desejo, quando o mesmo tipo de estímulo produz uma inclinação afetiva para o bem que lhe é apresentado, o ódio, quando um estímulo desfavorável lhe provoca um desprazer, e assim por diante.  
O mesmo sucede com os atos do apetite irascível, ou reações de emergência segundo certos autores modernos (cfr. BRENNAN, 1969). Assim, por exemplo, um estímulo favorável de difícil obtenção poderá produzir a esperança, quando leve o apetite irascível a uma inclinação afetiva para este bem árduo. Já um estímulo desfavorável e difícil de evitar poderia produzir o medo, quando produzisse a emoção correspondente à consciência de um mal do qual não se pode fugir.
Brennan (1969) faz notar que, segundo São Tomás, a cada paixão corresponde uma antagônica (amor-ódio; desejo-aversão; esperança-desespero, etc). A única exceção se observaria no caso da cólera (ou ira), pois esta se originaria da posse afetiva de um mal árduo ou difícil de evitar, e não existiria uma emoção específica oriunda da posse afetiva de um bem árduo, uma vez que a posse do bem, seja árduo ou não, de si já provoca a alegria, ou gozo.  
Exemplificando, uma pessoa que acaba de ser agredida fisicamente pode sentir cólera. Mas essa mesma pessoa sentirá alegria ao ser aprovada num exame, tenha sido este difícil ou não. Embora a intensidade da alegria possa variar, o gênero de emoção permanece o mesmo.
Outro ponto digno de nota assinalado por Brennan (1969) é que, segundo o Aquinate, não há paixão na alma do homem que não esteja fundada em algum tipo de amor. A razão disso, segundo São Tomás (S. T. , P. I-II, q. 27, a. 4, 2003), é que toda outra paixão ou implica num movimento em direção a um objeto ou no descanso nele. E isto provém de certa conaturalidade ou proporção que pertence à natureza do amor. Portanto, diz ele, é impossível que alguma outra paixão seja universalmente causa de todo amor, podendo acontecer, contudo, que uma outra paixão seja causa de um determinado amor, assim como um bem é causa de outro.  
Respondendo às objeções na mesma questão, o Doutor Angélico (S. T. , P. I-II, q. 27, a. 4, 2003) desenvolve este tópico demonstrando que, embora a paixão desejo possa parecer ser o primeiro movimento em relação a um objeto reconhecido como bom, tal desejo pressupõe o amor ao objeto, pois ninguém deseja aquilo que não ama, ainda que o desejo de um ser possa ser causa de que se ame outro. Ele exemplifica com o caso de alguém que deseja receber dinheiro, por essa razão amar aquele de quem o recebe.
Em outras palavras, a primazia do amor sobre as demais paixões se verifica pelo fato de que, no ciclo da vida consciente, ela é a primeira a ser mobilizada após o processo cognitivo estimular o apetite: quando o indivíduo percebe que algo lhe convém, ama-o. Percebendo que não lhe convém, porque ama o bem oposto, rejeita o objeto em questão. Esse amor, ou ódio (decorrente da rejeição) suscitado em contraposição a ele, é que desencadeará as demais paixões, conforme examinaremos mais detidamente logo adiante.
Alguém poderia objetar que tal classificação, embora muito lógica, pareceria carecer de fundamentação científica. Em seu artigo The Mediaeval System of Emotions, Gregory Schramm, O. S. B. (s. d. , apud BRENNAN, 1969) reuniu uma série de pesquisas científicas que comprovaram esta classificação. Referimo-lo rapidamente aqui, para não extrapolar os limites do presente estudo, remetendo para ele os que desejem aprofundar este ponto.

Papel da consciência no desencadeamento emocional

Um ponto importante da concepção tomista é destacado por Vernaux (1969, p. 81) quando diz que “as paixões são geradas na consciência”. Para demonstrá-lo, ele exemplifica com o processo de encadeamento das paixões motivado pelo conhecimento de um bem árduo, separado do sujeito por um obstáculo.  
O primeiro movimento emocional que se apresenta é o amor do bem considerado em si mesmo. Pois, como acabamos de ver, o amor é a mola propulsora do desencadeamento que se sucede. Pelo fato do objeto ser amado, o obstáculo que impede de alcançá-lo apresenta-se como um mal, e portanto suscita o ódio. Ao mesmo tempo, surgem o desejo desse bem e a aversão ao obstáculo. Caso o objeto seja transponível, nascerá a esperança. Caso intransponível, o desespero. A esperança desperta a audácia que impele a mover-se em direção ao obstáculo, e em seguida a cólera ou ira aparece no momento de enfrentá-lo. Por fim vem a deleitação ou alegria, após o obstáculo ser vencido e o bem ser possuído. Caso contrário, se o obstáculo for identificado como intransponível, a paixão despertada será o desespero, este gerará o medo, que leva a recuar diante do obstáculo, e o medo acarreta a tristeza, pelo fato do objeto não ser possuído.  
O exemplo é bem oportuno, pois nos permite avaliar a reversibilidade de todas as paixões ou emoções, como umas desencadeiam as outras e como, no final das contas, todas elas têm origem na paixão amor. “Assim, o ódio se funda sobre o amor, porque uma coisa não aparece como um mal a não ser por relação a um bem que é amado. Se não tendemos para um bem, não encontraremos nenhum obstáculo sobre a sua rota” (VERNAUX, 1969, p. 82).  
Uma vez que o desencadeamento emocional provém do amor, e que esta é uma das emoções de que mais facilmente se toma consciência, tal desencadeamento tem origem na consciência humana, ou ao menos em dado momento é evidenciado para ela, quando o indivíduo se dá conta de que está amando algum objeto. A chave do controle emocional consiste, portanto, no adequado manejo da paixão amor.


Contribuições tomistas ao estudo da “vida afetiva”

O tópico que acabamos de considerar projeta um foco de luz sobre o confuso tumultuar das paixões e sua relação com a consciência. Pois, se seu desencadeamento é no mínimo passível de tornar-se consciente, seu manejo torna-se muito mais accessível do que comumente se imagina. Para melhor compreender esta contribuição da Psicologia Tomista, entretanto, convém levar em consideração que podemos analisá-la a partir de dois pontos de vista distintos: 1º) A relação das emoções com o comportamento, e 2º) a sua relação com o desempenho.  
Quanto ao primeiro, registra Brennan (1969) que o Doutor Angélico considera o papel do conhecimento como diretivo, o da emoção como imperativo (ou ditatorial, poderíamos dizer) e o do movimento muscular como executivo. Da preponderância, portanto, da ditadura dos impulsos emocionais sobre as diretrizes racionais da cognição advém, muitas vezes, a perda do controle emocional.  
A conseqüência lógica é a adoção de um processo metódico de educação da inteligência e da vontade, aliada a um processo análogo, ainda que indireto, em relação ao apetite sensitivo, para prevenir tal descontrole, e mesmo aperfeiçoar o autodomínio. Pois, como vimos mais acima, o apetite sensitivo está por trás da paixão amor, a qual, por sua vez, desencadeia as demais.  
Do ponto de vista da relação das emoções com o desempenho, Braghirolli et al. (2005) ressaltam que esta relação pode ser representada por uma curva em “U” invertido. Ou seja, que a emoção até determinado grau pode melhorar o desempenho. Ultrapassado este grau, a emoção começaria a piorar o desempenho. Poder-se-ia exemplificar com o estudante que, devido a uma certa tensão, se aplicasse mais e tirasse uma boa nota, ou o executivo, que trabalhando mais obtivesse maior êxito profissional. Transposto o limite do ápice do “U” invertido, a emoção passaria a prejudicar o desempenho dos mesmos.  
Resta saber se esta melhora do desempenho pontual sob o influxo de uma emoção qualquer representa uma autêntica melhora do ponto de vista global. O fracasso escolar de muitos estudantes-prodígio que interrompem o curso por crises de stress, ou os executivos que enchem as salas de espera dos cardiologistas parecem falar em sentido contrário.  
A coerência com os princípios tomistas leva-nos a crer que não basta a influência de qualquer emoção para melhorar globalmente o desempenho, mas apenas o adequado domínio da inteligência e da vontade sobre as emoções, e o benefício que estas, uma vez bem reguladas, são capazes de oferecer àquelas, pode favorecer o desempenho humano, quer pontual, quer global.
Nesse particular, Tanquerey (1932) destaca os benefícios propiciados pela boa ordenação das paixões sobre a inteligência e a vontade, e em decorrência, sobre o comportamento do indivíduo. Com efeito, a inteligência ganha em capacidade de compreensão e dedicação, tanto no trabalho como no estudo, otimizando o desejo de conhecer a verdade, a facilidade em apreender e a utilização da memória. E a vontade multiplica suas energias e capacidade de decisão.  
Atuando em conjunto, elas terão condições de conduzirem a paixão amor às suas devidas finalidades. E este amor bem ordenado, por sua vez, facilitará enormemente a atuação do entendimento e do apetite racional. Pois, como mostra a experiência, tudo que se faz com verdadeiro amor, se faz melhor, uma vez que ele é a paixão-mestra que desencadeará o dinamismo das demais.  
A explicação desse fato, aliás, é simples. Corrobora o velho ditado: “a união faz a força”. No caso, trata-se da união do apetite sensitivo, tanto concupiscível quanto irascível, conforme o caso, com o apetite racional, ou seja, a vontade. As faculdades superiores são, desse modo, diretamente recompensadas pelos seus esforços no autocontrole emocional.
As contribuições tomistas ao estudo das emoções podem ser consideradas ainda do ponto de vista da análise do seu desenvolvimento.


A Psicologia atual, retratada por exemplo pela compilação de Braghirolli et al. (2005), afirma que tal desenvolvimento depende tanto da aprendizagem quanto da maturação das células, tecidos e órgãos. Dependendo da escola teórica, entretanto, o peso concedido a cada um desses fatores pode variar. John Watson e sua corrente behaviorista (apud BRAGHIROLLI et al. , 2005) sustentavam que existiriam apenas três tipos de reações emocionais inatas: medo, raiva e amor, e que as demais desenvolver-se-iam a partir destas, baseando-se em inúmeras experiências com cobaias, e até com bebês, realizadas em seus laboratórios.  
Os que defendem um papel preponderante da aprendizagem apontam três processos de aquisição de respostas emocionais: imitação, condicionamento (associação de um estímulo neutro com um que provoca emoção) e compreensão (recepção e interpretação racional das informações).  
Para as correntes que dão ênfase ao fator biológico, a maturação do sistema nervoso tem papel decisivo, especialmente do hipotálamo e do Sistema Límbico, por estarem mais estreitamente ligados às emoções. A literatura experimental neurobiológica é abundante. Braghirolli et al. (2005) referem que, para comprovar este ponto de vista, no ano de 1950 o psicólogo experimental espanhol José Delgado chegou a implantar eletrodos no Sistema Límbico do cérebro de um touro e o dominou numa arena com um rádio emissor portátil.
Entretanto, apoiados nos princípios enunciados por São Tomás, podemos chegar a conclusões semelhantes, partindo do pressuposto de que os animais em geral, e os seres humanos em particular, dispõem de uma potencialidade – por ele chamada de apetite sensitivo – que lhes confere a capacidade de sofrerem (passio) a ação dos agentes externos e internos que os movem (emovere) a se adaptarem à realidade e assim garantirem a homeostase. Para desenvolver-se, este apetite necessita da adequada maturação da estrutura biológica do organismo, bem como da moderação propiciada pelo fator educacional, no caso do homem.  
Em outros termos, essa potencialidade, radicada na alma, se atualiza na medida em que seu complemento hilemórfico5, o corpo, esteja devidamente preparado para executar suas diretrizes. E que as outras potências que com ela interagem, como a inteligência e a vontade, estejam aptas, inclusive pela aprendizagem, a adequar suas reações ao conjunto das conveniências da realidade. Tal processo de adequação, entretanto, reveste-se de um cunho teleológico, ou seja, tem em vista as reais finalidades do ser humano. Por essa razão, o papel da aprendizagem para o desenvolvimento da inteligência e da vontade, com sua repercussão sobre as emoções, é muito valorizado por São Tomás.


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Notas

1 Realizado com a valiosa colaboração do Professor Fábio Luis Ferreira Nóbrega Franco.

2 Apesar do nome latino, o Prof. Miguel García-Valdecasas publica seus trabalhos também em Inglês, além de ter sido academic visitor em Oxford (UK) de 2004 a 2006.

3 O Prof. Rudi Te Velde, embora lecione nas Universidades de Amsterdam e Tilburg, na Holanda, publica habitualmente seus trabalhos também em Inglês, motivo pelo qual foi incluído nesta lista.

4 Aqui consideradas segundo a terminologia aristotélico-tomista.

5 Referência à doutrina hilemórfica de Aristóteles, que diz serem todos os seres corpóreos dotados de hylé, ou matéria, e morphe, forma.

 


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