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Validación de apoyo social en adolescentes con diabetes mellitus: Efecto promotor de salud y de resilencia?

Autor/autores: Liliane Pereira Braga
Fecha Publicación: 01/03/2007
Área temática: Psicología general .
Tipo de trabajo:  Conferencia

RESUMEN

Se comprende resiliencia como el conjunto de procesos sociales e intrapsíquicos que posibilitan el desarrollo de una vida sana. Ese proceso resulta de la combinación entre los atributos individuales y ambientales, actuando como facilitadores en el proceso individual de percibir y enfrentar el riesgo. Ese auxilio envuelve mecanismos de protección y recursos de los cuales el adolescente dispone en su red de apoyo social y afectiva. El apoyo social contribuye para ajustamiento y desarrollo personales, teniendo también una acción promotora de salud. Así, se objetiva avaliar la resiliencia y el apoyo social en adolescentes con Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1).

Participaron del estudio 22 adolescentes, siendo 14 del sexo femenino y 8 del masculino, con edad media de 13 años, que poseen DM1 y son atendidos en el ambulatorio del hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, Natal/RN. Se utilizó: Termo de Consentimiento Libre y Esclarecido, cuestionario Semi-Estructurado, E scala de Resiliencia y escala de apoyo social. Esa muestra presentó media de resiliencia de 119, 79±16, 06, indicando que son resilientes. La escala de apoyo social avalia ese contructo a partir de cinco dimensiones: emocional, material, de información, afectiva y de interacción positiva, las medias obtenidas para cada una de ellas son, respectivamente, 84, 74±14, 38, 87, 63±15, 84, 86, 32±11, 65, 95, 84±9, 98, 81, 05±13, 08, indicando la presencia de un apoyo social satisfactorio. Así, se cree que ese apoyo social percibido por los adolescentes con DM1 parece contribuir para la característica resiliente, a pesar de la vivencia de una enfermedad crónica que implica en cambios de costumbres alimentarios, personales y sociales.

Palabras clave: Adolescente, Apoyo social, Diabetes mellitus, Psicología de la salud, Resiliencia


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Validación de apoyo social en adolescentes con diabetes mellitus: Efecto promotor de salud y de resilencia?

Camomila Lira Ferreira*; Ádala Nayana de Sousa Mata**; Caroline Araújo Lemos***; Liliane Pereira Braga****; Eulália Maria Chaves Maia***** .

* Psicóloga, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPPgCSa) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Pesquisadora Voluntária do grupo de Estudos: Psicologia e Saúde (GEPS) do Departamento de Psicologia da UFRN.

** Psicóloga, Pesquisadora Voluntária do GEPS do Departamento de Psicologia da UFRN.

*** Graduanda do Curso de Psicologia da UFRN, Bolsista PIBIC Local pelo GEPS do Departamento de Psicologia da UFRN.

**** Graduanda do Curso de Psicologia da UFRN, Bolsista Voluntária pelo GEPS do Departamento de Psicologia da UFRN.

***** Professora Doutora do Curso de Psicologia do Departamento de Psicologia da UFRN, Orientadora do PPPgCSa, Coordenadora do GEPS do Departamento de Psicologia da UFRN.

PALABRAS CLAVE: Resiliencia, apoyo social, Adolescente, Diabetes Mellitus, psicología de la Salud.

Resumen

Se comprende resiliencia como el conjunto de procesos sociales e intrapsíquicos que posibilitan el desarrollo de una vida sana. Ese proceso resulta de la combinación entre los atributos individuales y ambientales, actuando como facilitadores en el proceso individual de percibir y enfrentar el riesgo. Ese auxilio envuelve mecanismos de protección y recursos de los cuales el adolescente dispone en su red de apoyo social y afectiva. El apoyo social contribuye para ajustamiento y desarrollo personales, teniendo también una acción promotora de salud. Así, se objetiva avaliar la resiliencia y el apoyo social en adolescentes con Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1). Participaron del estudio 22 adolescentes, siendo 14 del sexo femenino y 8 del masculino, con edad media de 13 años, que poseen DM1 y son atendidos en el ambulatorio del hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, Natal/RN. Se utilizó: Termo de Consentimiento Libre y Esclarecido, cuestionario Semi-Estructurado, E scala de Resiliencia y escala de apoyo social. Esa muestra presentó media de resiliencia de 119, 79±16, 06, indicando que son resilientes. La escala de apoyo social avalia ese contructo a partir de cinco dimensiones: emocional, material, de información, afectiva y de interacción positiva, las medias obtenidas para cada una de ellas son, respectivamente, 84, 74±14, 38, 87, 63±15, 84, 86, 32±11, 65, 95, 84±9, 98, 81, 05±13, 08, indicando la presencia de un apoyo social satisfactorio. Así, se cree que ese apoyo social percibido por los adolescentes con DM1 parece contribuir para la característica resiliente, a pesar de la vivencia de una enfermedad crónica que implica en cambios de costumbres alimentarios, personales y sociales.



Introdução

Segundo Papalia e Olds(1), a fase da adolescência é um período que dura aproximadamente dos 12 ou 13 anos até o início dos 20 anos, considerando como ponto de início a puberdade, processo pelo qual se inicia a maturidade sexual, e termina quando se atinge a maioridade.  

Davidoff(2) afirma que é na adolescência que o indivíduo sente a necessidade de organizar as exigências e expectativas conflitantes da família, da comunidade e dos amigos; além de desenvolver as mudanças que ocorrem no corpo e no leque de necessidades; estabelecer independência; e conceber uma identidade para a vida adulta. Enquanto uma etapa do desenvolvimento psicológico, a adolescência é definida como uma crise normativa, desencadeada pelas modificações corporais inerentes à própria adolescência e tais mudanças trazem dificuldades readaptativas aos adolescentes(3, 4).

Tratando-se do adolescente, o esperado é que ele viva situações de saúde para crescer e desenvolver-se dentro desses limites da normalidade. Porém, ao se defrontar com a condição de doente, o adolescente, como todo ser humano, tem seu comportamento modificado, sobretudo, quando se trata de uma doença crônica. Sua reação diante dessa experiência desconhecida pode lhe trazer sentimentos de culpa, medo, angústia, depressão e apatia, e ameaçar a rotina do seu dia-a-dia, podendo ser freqüentemente submetido a hospitalizações para exames e tratamento à medida que a doença progride(5).

Segundo pesquisa realizada pela Organização Panamericana da Saúde, estima-se que 7 a 10% da população juvenil esteja afetada por uma doença crônica importante(4).  

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é uma das mais importantes doenças crônicas da infância em esfera mundial. No Brasil, o DM1 é a segunda doença mais comum entre crianças e adolescentes. Estima-se que a cada 1000 jovens, pelo menos 1 ou 2 sejam diabéticos(6).

Por doença crônica entende-se “um transtorno demorado, podendo ser progressivo e fatal, ou podendo causar prejuízos no funcionamento físico (invalidez permanente ou residual) ou mental” (Wasserman, 1992, p. 97)(4), impondo limitações às funções do indivíduo e requerendo adaptação(7). Geralmente demanda supervisão, observação, atenção e, muitas vezes, reabilitação. Atualmente, o aumento do número de pessoas com doenças crônico-degenerativas tem se constituído em um desafio para os serviços de saúde e para a sociedade.

Considerando-se o diagnóstico de uma doença crônica como um evento de risco para o adolescente, Vieira e Lima(5) afirmam que a doença crônica impõe modificações na vida da criança e de sua família, exigindo readaptações frente à nova situação e estratégias para o enfrentamento. Esse processo depende, entre outras coisas, das estruturas disponíveis para satisfazer suas necessidades e readquirir o equilíbrio.

No caso do DM1, o paciente apresenta uma deficiência quase total de insulina (hormônio produzido pelo pâncreas que tem a responsabilidade de manter a utilização adequada dos nutrientes de um grupo de substâncias chamadas carboidratos ou açúcares, e entre eles está a glicose), sendo obrigatória a utilização de insulina injetável para manter normais os níveis de glicose no sangue.  

O DM1 é uma doença crônica caracterizada pela elevação da glicose (açúcar) no sangue acima da taxa normal (hiperglicemia). Essa taxa normal é de aproximadamente 60 a 100 mg%. O Diabetes é causado por fatores genéticos (herdados) e ambientais, isto é, a pessoa quando nasce já traz consigo a possibilidade de ficar diabética. Quando, aliado a isso, traz-se fatores como obesidade, infecções bacterianas e viróticas, traumas emocionais, gravidez etc. , a doença pode surgir mais cedo(8, 9).

O DM1 pode ser desencadeado também por: cirurgias, estresse, alimentação rica em carboidratos concentrados como balas, doces e açúcar, menopausa e certos medicamentos. Os principais sintomas do diabético são: muita sede (polidipsia), excesso de urina (poliúria), muita fome (polifagia), e emagrecimento. Outros sintomas são: sonolência, dores generalizadas, formigamentos e dormências, cansaço doloroso nas pernas, câimbras, nervosismo, indisposição para o trabalho, desânimo, turvação da visão, cansaço físico e mental(8).


Assim, frente às modificações originadas pela adolescência e pelo acometimento por uma doença crônica, a combinação de atributos individuais, familiares, sociais e culturais se apresentam como fundamentais para o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo nas adversidades(10).

Sobre esta perspectiva e na medida em que se observa que alguns indivíduos, grupos ou comunidades superam situações adversas e ainda as transformam em vantagens ou estímulos para o seu desenvolvimento biopsicossocial e sobrevivência humana(11; 12), surge o conceito de resiliência, foco de estudos e discussões, que pode ser conceituada como uma variação individual frente a uma situação de risco ao desenvolvimento humano. Há tanto uma variação de respostas de um indivíduo para o outro, quanto de um mesmo indivíduo em diferentes circunstâncias e de acordo com as fases do seu desenvolvimento.

A maioria dos estudos tem como ponto de partida o questionamento de como alguém que se encontra exposto a situações e experiências consideradas de risco e prejudiciais consegue as condições necessárias para um desenvolvimento adequado(13). Isso permite pensar a resiliência não apenas como um atributo inato ou adquirido, mas sim como um processo interativo e multifatorial, envolvendo aspectos individuais, o contexto ambiental, a quantidade e qualidade dos eventos vitais, e a presença dos fatores de proteção(10, 14, 15, 16).

Trombeta e Guzzo(17) defendem o equilíbrio entre os fatores de risco e os de proteção. De um lado, estão presentes os eventos estressantes, as ameaças, os perigos, o sofrimento e as condições adversas; e do outro, as forças, as competências, o sucesso e a capacidade de reação e enfrentamento, que fazem parte do indivíduo.  

Ainda relacionado a esses fatores, Masten e Gamerzy(18) afirmam que a resiliência não existe sem o risco, sendo este potencial para predispor pessoas e populações a resultados negativos, e podem estar presentes tanto nas características individuais como ambientais.

De acordo com Yunes e Szymanski(19) os fatores de risco devem ser pensados como um processo e não como uma variável em si, relacionando-os com todos os eventos negativos de vida, que, quando presentes, proporcionam a probabilidade do indivíduo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.

Rutter(20) alerta, por sua vez, que para o desenvolvimento da resiliência se faz importante compreender como as características protetoras se desenvolveram e de que modo modificaram o percurso pessoal do indivíduo. As principais funções desses fatores protetivos são: reduzir o impacto dos riscos; reduzir as reações negativas em cadeia; estabelecer e manter a auto-estima e auto-eficácia, através de relações de apego seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso; e criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse.

Assim, entende-se que a presença dos fatores de proteção na vida de um indivíduo cria uma rede de apoio social, que pode auxiliá-lo no enfrentamento dos eventos de risco, como uma doença crônica(21).

Os fatores de proteção podem ser entendidos por influências que modificam, melhoram ou alteram, positivamente, as respostas pessoais a determinados riscos de desadaptação(22), como as condições do próprio indivíduo (autonomia, auto-estima, autocontrole, senso de humor, assertividade, estabilidade emocional, características de personalidade afetivas e flexíveis, habilidade em resolver problemas, etc. ), condições familiares (pais amorosos e competentes, coesão, estabilidade, respeito mútuo, qualidade nas interações, boa comunicação com os filhos, consistência, etc. ), e redes de apoio ambiental (ambiente tolerante a conflitos, demonstrar reconhecimento e aceitação, oferecer limites definidos e realistas, bom relacionamento com amigos, professores ou pessoas significativas).

Uma das compreensões que se faz a respeito do conceito de resiliência é a compreensão de que ela ocorre mediante uma relação entre fatores de apoio social (“eu tenho”), de habilidades pessoais (“eu posso”) e de forças pessoais (“eu sou e eu estou”)(23).

Compreende-se o apoio social como uma experiência pessoal, e por isso, é também chamado de apoio social percebido, e refere-se à avaliação generalizada que o indivíduo faz dos vários domínios da sua vida, em relação aos quais julga que é querido e que lhe reconhecem valor. Refere-se ainda à avaliação que faz da disponibilidade dos outros próximos e da possibilidade de a eles recorrer se disso necessitar(21).


O apoio social deve ser compreendido como uma experiência pessoal, sendo reconhecida a partir da intensidade com que o indivíduo se sente desejado, respeitado e envolvido. Além disso, contribui para o bem-estar do indivíduo, amortecendo o efeito que as situações adversas geralmente provocam. Esse construto apresenta relações com a promoção de saúde, a percepção de bem-estar, a redução de queixas somáticas e a resistência a doenças, possuindo efeito protetor sobre a pessoa que experiencia eventos estressores, ou seja, fatores de risco(21).

Afirma-se ainda que os efeitos negativos dos eventos de risco podem ser diminuídos ou eliminados naqueles indivíduos que possuem uma forte rede de apoio social. Assim, o apoio social contribui para o ajustamento e o desenvolvimento pessoal, além de ter sua função promotora de saúde(21).

Dessa forma, sugere-se que o apoio social tem efeito mediador na proteção e promoção à saúde, tornando-se, portanto, relevante para o presente estudo investigar a relação existente entre a resiliência e o apoio social existente na vida do adolescente portador de Diabetes Mellitus tipo 1. Objetiva-se, portanto, avaliar a resiliência e o apoio social em adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1 atendidos no Programa de Assistência ao Paciente portador de Diabetes Mellitus tipo 1 do Serviço de Endocrinologia Pediátrica do ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, em Natal/RN, Brasil.


Sujeitos:

A amostra foi constituída por 23 adolescentes, sendo 14 do sexo feminino e 09 do sexo masculino, com idade média de 13, 3±1, 4 anos, todos participantes do Programa de Assistência ao Paciente portador de Diabetes Mellitus tipo 1 do Serviço de Endocrinologia Pediátrica do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra (HOSPED), Natal/RN, Brasil.

Instrumentos:

Dentre os instrumentos utilizados estão: um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contendo informações sobre a pesquisa a ser realizada, tais como o seu propósito, riscos e benefícios, etc. Além disso, foi aplicado um questionário semi-estruturado com questões sócio-demográficas, investigando também variáveis biológicas e psicológicas.

Para avaliar a resiliência foi utilizada a escala de Resiliência, desenvolvida por Wagnild e Young(24) e adaptada para o português por Pesce, Assis, Santos e Oliveira(10). Esta escala é um dos poucos instrumentos usados para medir níveis de adaptação psicossocial positiva em face de eventos de vida importantes. Possui 25 itens descritos de forma positiva com resposta tipo likert variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Os escores da escala oscilam de 25 a 175 pontos, com valores altos indicando elevada resiliência.

Para avaliar o apoio social, utilizou-se a escala de Apoio Social(25), adaptada para o português por Chor, Grip, Lopes e Farstein(26). Tal escala avalia cinco dimensões do Apoio Social através de perguntas cujas opções de respostas são 1 ("nunca"), 2 ("raramente"), 3 ("às vezes"), 4 ("quase sempre") e 5 ("sempre"). As dimensões avaliadas são: a Emocional (habilidade da rede social em satisfazer as necessidades individuais em relação a problemas emocionais, por exemplo, situações que exijam sigilo e encorajamento em momentos difíceis da vida), a Material (provisão de recursos práticos e ajuda material), a de Informação (contar com pessoas que aconselhem, informem e orientem), a Afetiva (demonstrações físicas de amor e afeto) e a de Interação Positiva (contar com pessoas com quem relaxar e divertir-se)(27). Seus escores variam de 25 a 100, indicando os maiores escores um apoio social satisfatório para o indivíduo avaliado.

Procedimentos:

Inicialmente, foi realizado o contato com a equipe de saúde do Programa de Assistência ao Paciente portador de Diabetes Mellitus tipo 1 para explicar desde os objetivos até as possíveis contribuições que este estudo pode trazer aos profissionais e à comunidade científica em geral, bem como aos pacientes e suas famílias.

A partir desse contato, da aprovação dessa investigação pelo Comitê de Ética da UFRN e da realização de um estudo-piloto, deu-se início à coleta de dados da pesquisa. A aplicação da mesma foi realizada no ambulatório do HOSPED, por 4 entrevistadoras treinadas, enquanto os adolescentes esperavam para serem atendidos ou após a consulta médica de rotina.

Foram incluídos na pesquisa adolescentes de ambos os sexos com DM1 e com idade entre 12 e 18 anos, período caracterizado como adolescência segundo o Estatuto da Criança e da Adolescência. Selecionados os adolescentes, de forma aleatória, estes foram convidados a participar da pesquisa e esclarecidos a respeito da mesma. Caso houvesse interesse em participar, eram encaminhados a uma sala reservada, em companhia dos pais ou responsáveis, para a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após a assinatura, era pedido para que os pais ou responsáveis se retirassem da sala, para que o adolescente pudesse responder aos instrumentos sem interferência dos mesmos.

Os instrumentos foram aplicados na seguinte ordem: Questionário Semi-Estruturado, escala de Resiliência e escala de Apoio Social. A leitura dos instrumentos foi realizada pela pesquisadora, em conjunto com o adolescente. Ele indicava a sua resposta, assinalada no instrumento pela pesquisadora. Isso ocorreu para todos os adolescentes submetidos à pesquisa, uniformemente.

Análise de Dados:

Os dados obtidos com as escalas aplicadas foram submetidos a suas respectivas formas de correção e avaliação. Os resultados foram organizados com o auxílio do Programa Microsoft Excel, juntamente com as informações do questionário semi-estruturado, e submetidos a uma Análise de Freqüência de Respostas.

Resultados

A partir dos dados obtidos com o questionário semi-estruturado, percebeu-se que a maioria dos adolescentes entrevistados (57%) nasceu em Natal, capital do Rio Grande do Norte (RN), estado do Brasil, cidade na qual 61% deles reside atualmente. Somente 4% não estava estudando, correspondendo a escolaridade de 65% da amostra ao Ensino Fundamental Incompleto.

Esses adolescentes moram em média com 5, 35 pessoas em residências com média de 5, 48 cômodos. Na amostra, 44% possui renda familiar média entre 0 e 2 salários mínimos (SM), sendo 1 SM no Brasil equivalente a R$ 350, 00. Além disso, 17% dos adolescentes que participaram do estudo relataram estar trabalhando no momento e 65% da amostra reside com sua família de origem.

Todos os dados sócio-demográficos obtidos nessa investigação podem ser visualizados na Tabela 01.

 


Tabela 01: Dados Sócio-Demográficos de Adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1, atendidos no Ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, em Natal/RN – Brasil


Além de informações sócio-demográficas, buscou-se investigar através do questionário, por meio de questões abertas e fechadas, dados biopsicológicos e psicossociais.

Com relação aos aspectos biopsicológicos, os adolescentes receberam o diagnóstico de DM1 há, em média, 41, 1±23, 8 meses, freqüentando o Programa de Assistência ao Paciente com DM1, no ambulatório do HOSPED, após 32, 2±24, 3 meses, de modo a buscar a manutenção ou mesmo o estabelecimento do controle da doença.

Outro elemento avaliado foram os auto-cuidados, evidenciados na Tabela 02.

 


Tabela 02: Realização de Auto-Cuidados por Adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1, atendidos no Ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, em Natal/RN – Brasil


Com relação aos aspectos psicossociais, tem-se que 78% dos adolescentes relataram que seus pais “sempre” sabem aonde eles vão e com quem vão, 9% disse que isso acontecia “quase sempre” e 13% “às vezes”. No que se refere à avaliação que a amostra faz de seus relacionamentos com seus pais, irmãos, amigos e namorado(a), a qualidade desses relacionamentos estão evidenciados na Tabela 03.

 


Tabela 03: Avaliação dos Relacionamentos Interpessoais estabelecidos pelos Adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1, atendidos no Ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra


Ainda com relação aos aspectos psicossociais, foi questionado aos adolescentes o que mudou em sua vida após o diagnóstico da doença (Tabela 04).

 


Tabela 04: Mudanças na Vida dos Adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1, atendidos no Ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, em Natal/RN – Brasil


Questionou-se também aos adolescentes a respeito das atividades que eles realizavam no seu dia-a-dia (Tabela 05).

 


Tabela 05: Atividades diárias realizadas pelos adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1, atendidos no Ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, em Natal/RN – Brasil


Além dessas questões, procurou-se investigar as atividades de lazer vivenciadas pelos adolescentes da amostra, cujas respostas podem ser visualizadas na Tabela 06.

 


Tabela 06: Diversão dos adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1, atendidos no Ambulatório do hospital de Pediatria Professor Heriberto Bezerra, em Natal/RN – Brasil


A partir da escala de Resiliência, obteve-se a média de 119, 78±15, 88, o que pode ser avaliado como uma resiliência moderada, uma vez que se entende a média dessa escala pelo escore 100, 00. Dessa forma, pode-se observar que os adolescentes encontram-se acima da média.

A escala de Apoio Social avalia cinco dimensões: emocional, material, de informação, afetiva e de interação social. Assim, através dessa escala, obtiveram-se médias para cada uma dessas dimensões. Na área emocional, a amostra apresentou a média de 84, 5±14, 0. Já na dimensão material, essa média passa para 87, 5±15, 4. No que se refere à informação, os adolescentes apresentaram média de 86, 0±11, 4. Na dimensão afetiva, a média foi de 96, 1±9, 8, e na interação social foi 81, 8±13, 1. Tais valores obtidos caracterizam o apoio social recebido como elevado, ao categorizá-los segundo tercil.

Discussão

Características da amostra como maior presença de adolescentes do sexo feminino (61% da amostra) e idade média de 13, 3±1, 4 anos, correspondente aos primeiros anos da adolescência, parecem refletir as características demográficas do Programa de Assistência ao Paciente portador de DM1 no ambulatório do HOSPED. As demais características sócio-demográficas também acabam por condizer à realidade assistida nesse hospital vinculado ao Sistema Único de Saúde Pública e Gratuita do Brasil, uma vez que os adolescentes da pesquisa pertencem a um baixo nível sócio-econômico.

Quanto aos aspectos biopsicossociais estudados, percebe-se a realização satisfatória dos auto-cuidados necessários para o tratamento do DM1, o que pode estar relacionado ao tempo decorrido de doença (41, 1±23, 8 meses) e conseqüente assistência recebida no Programa durante os 32, 2±24, 3 meses seguintes ao diagnóstico de DM1. A inserção do adolescente nesses tipos de programas contribui positivamente para o bom enfrentamento da doença, uma vez que o jovem e sua família contam com as orientações devidas, bem como com o apoio da equipe de saúde para esclarecer suas dúvidas e oferecer segurança aos mesmos(28).

Tal apoio torna-se relevante sobretudo para essa fase do desenvolvimento, uma vez que os adolescentes, em geral, têm mais dificuldades para aceitar a doença, quando comparados a crianças, pois, enquanto estas ainda dependem dos cuidados dos pais ou responsáveis, os adolescentes são convocados a responsabilizar-se pela própria saúde. Isso, por sua vez, exige que o jovem passe a assumir alguns auto-cuidados(29), como a auto-aplicação da insulina que é realizada por todos os adolescentes da amostra estudada, evidenciando uma relativa maturidade dos mesmos com relação a necessidade de cuidados e promoção de sua própria saúde, relacionados à aceitação da doença e à necessidade de independência própria da adolescência.

As mudanças hormonais também podem fazer com que a incumbência do controle da taxa de glicose no sangue seja ainda mais difícil durante a adolescência. Jovens inseguros sobre si mesmos têm maiores possibilidades de não cumprir as tarefas do tratamento, pois procuram evitar sentir-se diferente de seus companheiros. Por outro lado, jovens com elevados níveis de auto-estima, que se sentem competentes socialmente, e com suporte familiar são mais propensos a aderir ao tratamento(29).

Provavelmente, essa adesão seja propiciada entre a amostra, uma vez que se percebe avaliações positivas que os adolescentes fazem dos relacionamentos que possuem com seus pais, mães, irmãos e amigos. Diante disso, é fundamental a existência de um bom relacionamento com os familiares a fim de oferecer maior segurança ao jovem no enfrentamento das mudanças decorrentes de uma doença crônica, favorecendo a realização dos cuidados necessários e conseqüente um controle adequado da doença(30).

Sabe-se que o DM1 implica em várias mudanças na vida do indivíduo. Para amostra do presente estudo, as principais mudanças decorridas são na alimentação (91%). Esse é um aspecto coerente com as necessidades do DM1, que implica na redução da ingestão de açucares e carboidratos. Assim, as mudanças na alimentação também estão relacionadas aos cuidados que os adolescentes estão tendo com a sua saúde.


Como a maioria dos adolescentes (96%) estuda e todos se encontram em idade escolar, as atividades diárias dos adolescentes voltam-se para atividades educativas, ou seja, de estudo e leitura. Vale salientar a importância da escola como parte da rede de apoio da amostra, podendo assumir uma função informativa e protetora, no sentido de estar atenta às necessidades de seus alunos.

A presença de atividades recreativas (52%), como brincar, para a diversão dos adolescentes desse estudo pode ser compreendida pela vivência de uma fase de transição da infância para a fase adulta - a adolescência. É importante colocar que a realização de atividades lúdicas, individuais ou coletivas, favorece a socialização e o desenvolvimento de potencialidades(5).

Diante de uma situação de risco, os adolescentes precisam de características que o auxiliem nesse enfrentamento. Uma delas se configura como a resiliência presente nos adolescentes desse estudo, cuja mensuração chegou ao escore médio de 119, 78±15, 88. Dessa forma, mesmo vivenciando uma doença crônica e pertencendo a uma classe sócio-econômica desfavorecida - situações consideradas de risco segundo Pesce, Assis, Santos e Oliveira(10) -, os adolescentes parecem estar vivendo satisfatoriamente e buscando o seu bem-estar, como indicado também pelos auto-cuidados realizados freqüentemente.

A característica resiliente dos adolescentes com DM1, a realização dos auto-cuidados e adesão ao tratamento podem estar sendo favorecidos por um fator de proteção que se configura como um dos principais mediadores psicossociais de adaptação à doença crônica e à manutenção da saúde(30). Esse fator protetivo é o apoio social. Isso pode ser justificado na medida em que se observa a existência de um apoio social satisfatório entre os adolescentes da pesquisa, em todas as dimensões estudadas.

Altos escores de apoio social, segundo estudos como o de Griep, Chor, Faerstein, Werneck e Lopes(27) e o de Pesce, Assis, Santos e Oliveira(10), estão associados ao gênero feminino e a um bom relacionamento interpessoal, atuando como facilitadores no processo individual de perceber e enfrentar o risco. Além disso, o apoio social, principalmente o fornecido pela família, ajuda o paciente com DM1 a viver com a enfermidade de forma a cuidar de si mesmo, reduzindo ao mínimo as complicações, os sintomas e as incapacidades que podem surgir. Esses elementos podem ser evidenciados através da presente investigação.

Cabe ainda colocar a importância da existência de uma equipe de saúde interdisciplinar no tratamento do adolescente com DM1, oferecido pelo HOSPED, e que pode estar sendo visto também como integrante da rede de apoio desse paciente. Além disso, o apoio social percebido se configura como um determinante importante do estado psicológico do adolescente com DM1, independente da condição real de sua rede social(30).

Dessa forma, percebe-se uma tendência à resiliência moderada entre os adolescentes com DM1 dessa pesquisa, o que pode estar contribuindo para a adesão desses jovens ao tratamento, no sentido de realizarem os auto-cuidados exigidos. Essa característica resiliente pode estar relacionada à influência do apoio social percebido, atuando enquanto fator de proteção nesse construto e podendo favorecer no enfrentamento do adolescente diante da convivência com o DM1.

Os aspectos encontrados e discutidos na presente investigação apontam, portanto, para a necessidade da capacidade de superar as adversidades e do auxílio de uma família apoiante nas atividades do cuidado do DM1 e de uma equipe atuante, que forneça um apoio específico em relação à doença, para um desenvolvimento adequado e a promoção de saúde. Com isso, a adesão ao tratamento pode ser favorecida e um controle metabólico alcançado, embora este último não tenha sido avaliado.

Assim, faz-se necessário um estudo mais completo que inclua uma avaliação sistemática do controle metabólico do DM1 e sua relação com a resiliência e o apoio social, além de uma análise estatística entre estas duas variáveis, a fim de identificar uma possível relação entre elas e entre as variáveis sócio-demográficas.


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